quinta-feira, 11 de junho de 2020

ENTREVISTA (via Zoom) ao Professor Dinis Félix, Coordenador de Estabelecimento da Escola Básica de Arco de Baúlhe


CÁTIA COSTA (CC): Professor, como tem sido a sua vida desde a interrupção das aulas presenciais (em março)?  

DINIS FÉLIX (DF): Em primeiro lugar, gostaria de cumprimentar as nossas alunas (jornalistas) e respetivas famílias. Respondendo à vossa pergunta, devo confessar que não foi fácil. Nada fácil. Ninguém estava preparado para o que sucedeu. Mas, claro, tivemos de reagir, tivemos de nos adaptar, aprender a usar novas ferramentas. Para mim, foi doloroso. Em particular, faltou-me o convívio com outras pessoas… 


INÊS ARAÚJO (IA): Acha que o sistema de ensino português estava preparado para esta situação? 

DF: Não, não estava. Agora, olhando para trás, até parece que as coisas funcionaram bem, mas foi muito difícil. O sistema não estava preparado e, na verdade, ainda não está. Adaptámo-nos rapidamente, isso sim. Mas toda a gente percebeu que não havia meios tecnológicos disponíveis para todos, nomeadamente para os alunos. Ora, se nem todos os alunos tinham meios para aceder às aulas, estava em causa a igualdade e o direito de todos à educação. Fomos resolvendo os problemas gradualmente, mas foi (e é) muito complicado. 


CC: Que balanço faz do trabalho realizado desde que se iniciou este regime de teletrabalho? 

DF: Olhando para trás, com há pouco dizia, o balanço acaba por ser muito positivo. Depois das imensas dificuldades iniciais, fomos aprendendo a lidar com a situação, sempre com o enorme esforço de todos. Mas foi um processo difícil, doloroso, quer para os alunos, quer para os professores e os encarregados de educação. Aprendemos todos muito rapidamente a lidar com novas ferramentas, novas plataformas de comunicação. Houve algo que me chamou a atenção, em particular: eu tinha a ideia de que os alunos, que já tinham nascido num tempo habituado às novas tecnologias, teriam grande facilidade na adaptação, mas não foi assim! Descobri que muitos, embora acostumados a usar meios informáticos (telemóvel, smartphone, etc.), não estavam preparados para lidar com algumas das plataformas que passámos a utilizar. Mas, lá está, adaptaram-se, aprenderam a lidar com o novo contexto. O balanço, portanto, apesar das dificuldades e das injustiças, é muito positivo! 


IA: Quais foram as principais dificuldades que sentiu, como professor, como coordenador de estabelecimento e como encarregado de educação? 

DF: Como encarregado de educação, foi fácil, porque os meus filhos já são crescidos, têm autonomia e sentido de responsabilidade, possuíam já computador, logo adaptaram-se rapidamente às novas exigências colocadas pelo sistema de ensino. Como coordenador de estabelecimento, não foi assim tão complicado, até porque a nossa escola teve de fechar. O meu trabalho foi estar disponível para ir resolvendo problemas, como permitir a vinda de alunos à escola para recolher material de estudo, dar aos professores dos vários ciclos de ensino as instruções necessárias, etc. Como professor é que a vida se tornou verdadeiramente mais complicada: tive de reorganizar-me, adaptar-me, aprender a usar novas plataformas, a produzir novos materiais (adequados ao ensino a distância), etc


CC: Como classifica em geral, a colaboração dos encarregados de educação com a Escola? 

DF: A colaboração dos encarregados de educação foi muito boa. Os pais dos alunos sofreram também muito com esta situação. Na verdade, muitos tiveram de ser pais e professores dos seus filhos (sobretudo no contexto do 1º ciclo). Tiveram de supervisionar o trabalho dos seus educandos, monitorizar o cumprimento das tarefas, motivá-los… Eu falei com alguns encarregados de educação e notei que estavam agastados, cansados, situação que é, sem dúvida, compreensível. 


IA: Como olha para o próximo ano letivo? Tem esperança de que possamos regressar à normalidade? 

DF: Não sei se voltaremos à normalidade habitual logo em setembro, mas gostava! Tenho essa esperança. A escola (como a conhecemos) faz-nos falta, faz falta a toda a gente. Os alunos e os professores, segundo creio, estão ansiosos por voltar. Mas temos de esperar por setembro para ver como estarão as coisas… Tudo depende de como a situação sanitária evoluir. Talvez comecemos com aulas presenciais e, depois, tenhamos de ir fazendo adaptações… Mas as decisões terão de ser tomadas de acordo com a situação em cada momento. Tenhamos esperança. 


CC: Uma curiosidade: durante este tempo de pandemia, quando estava em confinamento, além do tempo dispensado ao teletrabalho, como passava o seu dia? 

DF: Eu levanto-me todos os dias bem cedo e vou correr uns 5 quilómetros (mais ou menos meia hora). Preciso disso. Sempre gostei de desporto, sobretudo de modalidades de desporto coletivo. O professor Joaquim Jorge sabe que adoro futebol (e de futsal), já jogámos juntos. Custou-me muito ter de deixar de praticar futebol, devido à situação em que nos encontramos. A alternativa tem sido correr e sinto-me bem com esse hábito. Preciso mesmo de sair de casa e manter-me fisicamente ativo. É quase como uma terapia, que faz bem ao corpo e também à cabeça. Aproveitei igualmente o fato de estar confinado para ver filmes e séries. Sempre adorei cinema e agora, como tenho algum tempo disponível, aproveito… 


IA: Deixe, por favor, uma mensagem à comunidade educativa da nossa Escola (em particular, a alunos, professores, auxiliares e encarregados de educação) … 

DF: Como sabem, a escola faz, no presente ano, 25 anos de existência. O aniversário, que pretendíamos assinalar com um conjunto de atividades culturais, acabou por ficar associado à pandemia. Mas voltaremos. A minha mensagem pode resumir-se numa simples palavra: esperança. Espero que nos voltemos a ver, com saúde e ânimo, já em setembro. Mesmo que não possamos abraçar-nos fisicamente, haverá a oportunidade de nos cumprimentarmos presencialmente. Tenhamos esperança. E, já agora, não se esqueçam: protejam-se! 


CC: Muito obrigado, professor. Continuação de bom trabalho, com alegria e saúde. 

Arco, 06 de junho de 2020.
Entrevistadoras: Cátia Costa e Inês Araújo, 9º a1
Coordenação da atividade: JJC

Nenhum comentário:

Postar um comentário

ENTREVISTA (via Zoom) À PROFESSORA MARIA DO CÉU CARIDADE, DIRETORA DO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE CABECEIRAS DE BASTO

LETÍCIA CAMPOS (LC): O que mudou na sua vida desde a interrupção das aulas presenciais (em março)?  MARIA DO CÉU CARIDADE (MCC): Mudou...