terça-feira, 16 de junho de 2020

ENTREVISTA (via Zoom) À PROFESSORA MARIA JOSÉ BARROSO, COORDENADORA DE DIRETORES DE TURMA



PEDRO MOTA: Professora, como tem sido a sua vida desde a interrupção das aulas presenciais (em março)? 


Maria José Barroso (MJB): Não tem sido fácil! O volume de trabalho, sobretudo nos primeiros tempos, cresceu imenso e os dias pareciam demasiado curtos para tantas tarefas. Tudo foi muito complicado até que eu conseguisse estabelecer uma rotina. A partir desse momento, já adaptada, o que até aí era demorado e difícil passou a ser mais rápido e mais fácil. É preciso não esquecer que os professores (como, aliás, os alunos e os encarregados de educação) tiveram de se adaptar, procurando novas formas de trabalhar. No meu caso, posso até dizer-vos que senti a necessidade de frequentar uma formação que me ajudasse a lecionar em novas plataformas, com recurso às novas tecnologias. E estou, por isso, a frequentar uma formação nessa área. 

RICARDO CARVALHO (RC): Acha que o sistema de ensino português estava preparado para esta situação? 

MJB: Creio que o sistema não estava preparado para uma situação deste tipo. Desde logo porque o ensino a distância deveria sempre acautelar a necessária igualdade no acesso a computadores e à internet, no que se refere aos alunos. Ora, como sabemos, essa igualdade não existia. Foi preciso ir atendendo aos casos de alunos sem recursos tecnológicos e ir resolvendo os problemas, na medida do possível. Reparem que, já no sistema habitual, com aulas presenciais, há desigualdade, porque nem todas as famílias têm os mesmos recursos, mas essa desigualdade acentuou-se, pelo menos nos primeiros tempos, com o ensino a distância. Por outro lado, se até nas nossas escolas, de vez em quando, nos queixamos de falta de modernos equipamentos tecnológicos, imagine-se o que sucede nas casas dos alunos. 

P M: Que balanço faz do trabalho realizado desde que se iniciou este regime de teletrabalho? 

MJB: Apesar de tudo, penso que o balanço é positivo. Claro que as coisas nem sempre correram 100% bem, pois houve sempre, aqui e ali, aspetos a corrigir ou a ajustar. Mas eu gosto de ver as coisas pelo lado positivo e, atendendo à quantidade e dificuldade dos desafios, eu creio que se trabalhou (e continua a trabalhar) bastante bem! Lembro que o ensino a distância foi muitíssimo exigente para todos os envolvidos, mas em particular para os diretores de turma. Os diretores de turma estabeleceram inúmeros contactos com os encarregados de educação e os alunos, sempre no intuito de que nenhum aluno fosse deixado para trás! Para além disso, fizeram a ponte entre professores e alunos, esclarecendo situações, monitorizando o cumprimento das tarefas, etc. Se me permitem, gostaria de muito de destacar e felicitar o trabalho incansável dos diretores de turma do nosso Agrupamento!


RC: Quais foram as principais dificuldades que sentiu, como professora, como coordenadora de diretores de turma e como encarregado de educação? 

MJB: Como professora, procurei adaptar-me a esta nova forma de ensinar, como já disse. Neste momento, posso dizer que já me sinto mais preparada, mais capaz e com imensa vontade de melhorar (ainda mais) as minhas competências e os meus conhecimentos neste contexto. Como diretora de turma e coordenadora de diretores de turma, foi muito, muito difícil! O trabalho duplicou, triplicou! Foi mesmo muito difícil dar vazão a tantas e tão variadas solicitações! Pude, felizmente, contar com a colaboração de todos e o trabalho acabou por fazer-se de modo positivo. Como encarregada de educação, foi também muito complicado. A minha filha é ainda pequenina e precisou da minha presença e da minha ajuda constantes. No fundo, nesse aspeto, eu senti as dificuldades que os outros encarregados de educação sentiram, sobretudo na tentativa de conciliar a dimensão do trabalho com o ofício de mãe. 

PM: Como classifica, em geral, a colaboração dos encarregados de educação com a Escola?

MJB: A colaboração dos encarregados de educação foi verdadeiramente primordial! Em termos gerais, foi uma colaboração muito positiva, não obstante as dificuldades que numerosos pais e mães sentiram. Sublinho o facto de muitos encarregados de educação terem de sair da sua residência para trabalhar, o que significa que os filhos ficam sozinhos em casa, sem o necessário acompanhamento parental. Há muitos que se queixam dessa situação: não poderem, ainda que quisessem, apoiar os seus filhos ao longo do dia, ajudando-os no cumprimento das suas tarefas escolares. Tenho de cumprimentar o esforço da generalidade destes encarregados de educação. Admiro-os bastante. 

RC: Como olha para o próximo ano letivo? Tem esperança de que possamos regressar à normalidade? 

MJB: Gostava muito de regressar à normalidade! Muito! Na minha opinião, o ensino faz mais sentido se estivermos próximos. É claro que a segurança e a saúde são questões a ter em conta. Se, por uma questão de nos protegermos, tivermos de ficar em casa, devemos ficar. Quem decide sobre estas situações tem de considerar sempre as prioridades em jogo, naturalmente. Mas, para responder diretamente à vossa pergunta, sim, gostava muito de voltar a trabalhar na escola, em regime presencial. 

PM: Uma curiosidade: durante este tempo de pandemia, quando estava em confinamento, além do tempo dispensado ao teletrabalho, como passava o seu dia? 

MJB: Para além do teletrabalho - e também da frequência de uma ação de formação -, pude dar mais atenção à família, brincar com a minha filha (não tanto como ela desejaria). Também comecei a ler um livro (Ensina-me a voar sobre os telhados, de João Tordo). Confesso que a pandemia, sobretudo no início, me assustou muito. Posso até confidenciar-vos que senti a necessidade de contactar pessoas amigas com quem já não falava há bastante tempo, só para, por alguns minutos, estarmos juntos, próximos … 

RC: Há alguma pergunta que não fizemos e gostava que tivéssemos feito? 

MJB: Não. Creio que as vossas perguntas focaram o essencial… 

PM: Deixe, por favor, uma mensagem à comunidade educativa da nossa Escola (em particular, a alunos, professores, auxiliares e encarregados de educação) … 

MJB: Deixo-vos uma palavra de esperança. A esperança é fundamental na nossa vida, ainda mais em situações como esta que estamos a atravessar. Pela minha parte, enquanto coordenadora de diretores de turma, manifesto a minha gratidão a todos pela colaboração que tenho recebido. Temos de enfrentar juntos esta situação! E a vida só faz sentido se estivermos juntos, não podemos viver isoladamente. Creio que foi o Papa Francisco, homem que muito admiro, que disse algo como isto: “Precisamos de saber ocupar o nosso lugar e compreender o lugar dos outros.” 

RC: Obrigado pela entrevista que nos concedeu. Em nome do Clube de Jornalismo, desejo-lhe saúde e felicidades. Obrigado. 

Arco de Baúlhe, 15 de junho de 2020.

Entrevistadores: Pedro Mota e Rodrigo Carvalho, 9º B1
Coordenação da atividade: JJC

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