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segunda-feira, 22 de junho de 2020

ENTREVISTA (via Zoom) À PROFESSORA MARIA DO CÉU CARIDADE, DIRETORA DO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE CABECEIRAS DE BASTO


LETÍCIA CAMPOS (LC): O que mudou na sua vida desde a interrupção das aulas presenciais (em março)? 

MARIA DO CÉU CARIDADE (MCC): Mudou muita coisa, na verdade. Em termos profissionais, vivemos tempos de grandes dificuldades e de grandes desafios. Foi preciso montar rapidamente o sistema de ensino a distância, num contexto muito, muito complicado. A qualquer altura, tínhamos de alterar, melhorar, corrigir processos, metodologias, sempre de acordo com a situação e com as instruções da tutela. A nossa grande preocupação, para além de assegurar orientações claras e meios adequados aos professores, era conseguir que os alunos fossem também capazes de corresponder às novas exigências. Temíamos que muitos não possuíssem o material informático requerido, a internet e até a autonomia necessária para usar as novas tecnologias. Quisemos, a todo o custo, que nenhum aluno fosse deixado para trás! 

LC: Acha que o sistema de ensino português estava preparado para esta situação? 

MCC: Não! Não estava o sistema educativo, como também, de certa forma, nenhum outro sistema da nossa sociedade, incluindo os relacionados com a saúde e a economia. No nosso caso, tivemos uma certa vantagem, à partida, que resulta do facto de os professores serem profissionais com uma extraordinária capacidade de adaptação. A classe docente tem passado por grande número de reformas ao longo da sua vida profissional e essa experiência acabou por conferir-lhes um conjunto de competências que, neste contexto, se revelaram fundamentais. Por outro lado, não me canso de dizer que os professores têm, em geral, uma especial motivação: trabalhar com os alunos, ajudar os jovens do nosso País a preparar o seu futuro da melhor forma possível. No fundo, para além da capacidade profissional, há aqui, diria, uma componente de vocação. 

LC: Que balanço faz do trabalho realizado pelos professores e pelos alunos desde que se iniciou este regime de ensino a distância? 

MCC: O balanço é muito positivo. Pudemos contar com um enorme empenho de professores e diretores de turma, assistentes técnicos, alunos, encarregados de educação. Desenvolveu-se um verdadeiro trabalho de equipa, que contou com a preciosa colaboração de parceiros muito importantes (Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto, Juntas de Freguesia, Associação de Pais, etc.). Tratou-se de uma parceria efetiva, não apenas de algo que estava no papel. Sem o nosso trabalho colaborativo, a situação teria sido muito mais complicada. 

LC: Quais foram as principais dificuldades que sentiu, como Diretora do nosso Agrupamento? 

MCC: A primeira grande dificuldade foi não poder preparar a nossa ação antecipadamente. Repare-se: tudo estava sempre a mudar, a cada momento, num clima de grande incerteza. Aliás, nas duas últimas semanas das aulas presenciais (de 2 a 13 de março), havia grandes dúvidas sobre as medidas a tomar no nosso País. De qualquer modo, já então pusemos em prática várias medidas, relacionadas com os cuidados a ter em matéria de higienização, com a divulgação de regras de etiqueta respiratória e com precauções a observar no convívio social. Depois de o ensino passar a funcionar a distância, a nossa preocupação foi não perder o contacto com os nossos alunos, encontrando maneiras de os manter ligados à Escola. Seguimos, como é evidente, as diretrizes superiores que foram chegando. O trabalho foi intenso e constante. Não havia tempo para folga ou descanso, na verdade. E isto valeu para a direção como para os professores em geral! O facto de muitos alunos não terem computador ou sinal de internet comprometia, logo à partida, o nosso objetivo de ninguém ficar para trás. É claro que a Câmara Municipal deu uma grande ajuda e contámos com a colaboração de Juntas de Freguesia para fazer chegar a alguns alunos e respetivos encarregados de educação, em mão, as planificações e as tarefas semanais. Fomos sempre adaptando práticas, alterando, corrigindo, melhorando. Repito: o nosso objetivo foi não perder o contacto com os alunos (todos os alunos). Tivemos ainda a ajuda importante do Gabinete de Apoio ao Aluno e à Família (GAAF) – e chegou a ser necessário contactar a CPCJ (Comissão de Proteção de Crianças e Jovens) para prevenir ou resolver algumas situações. 

LC: Como classifica, em geral, a atitude dos encarregados de educação durante este período tão complicado? 

MCC: Os encarregados de educação foram também uns verdadeiros heróis! Foi-lhes incumbida uma missão muitíssimo difícil: trabalhar (no caso de poderem continuar a sua atividade profissional), ser pais e, num acrescento a essa tarefa, monitorizar o trabalho escolar dos seus filhos. Louvo o esforço desses pais, pois não se trata de um trabalho fácil. Para um encarregado de educação que é, profissionalmente, professor ou educador, será um pouco mais fácil, mas para outros houve a necessidade de aprenderem a agir num contexto que, como é óbvio, não dominavam. Em geral, a colaboração dos pais foi, na verdade, muito boa. Já agora: se é possível retirar aspetos positivos deste panorama, podemos dizer que os pais tiveram a oportunidade de conhecer melhor a realidade do trabalho escolar. Houve pais que ficaram a perceber melhor a dinâmica da escola. Penso que houve uma aproximação entre os pais e a Escola. É importante refletirmos sobre isto e tirar ilações para o futuro. 

LC: Como olha para o próximo ano letivo? Tem esperança de que possamos regressar à normalidade? 

MCC: Todos nós queremos voltar à normalidade. Tenho esperança de que, no próximo ano letivo, voltaremos às aulas presenciais, ainda que com algumas mudanças. Estamos à espera de decisões da tutela. Penso que começaremos em setembro, respeitando cuidados de higienização e, tanto quanto possível, de distância social. Enquanto não houver vacina ou um medicamento eficaz para este coronavírus, será sempre uma situação delicada e todos os cuidados são poucos. Se pudermos voltar às aulas presenciais, seria muitíssimo bom! De qualquer modo, penso que todos aprendemos com o que passámos (e estamos ainda a passar), quer os professores, quer os alunos. No caso dos alunos, creio que muitos terão finalmente percebido, com o ensino a distância, a importância da responsabilidade, do esforço e da autonomia. Costumo dizer que, muitas vezes, não são os professores que ensinam; são os alunos que aprendem. Mas os alunos têm de querer aprender! Julgo que se os nossos alunos evidenciarem este sentido de responsabilidade nas aulas presenciais, todos teremos imenso a ganhar. 

LC: Uma curiosidade: durante este tempo de pandemia, quando estava em confinamento, além do tempo dispensado ao teletrabalho, como passava o seu dia? 

MCC: Na verdade, a maior parte do tempo estava ocupada com o trabalho, como há pouco disse. Naturalmente, estar em casa permite um contacto mais frequente com a família e esse acaba por ser um aspeto positivo, no meio de tantas dificuldades. Vou confidenciar-vos algo de muito pessoal: eu vivo numa aldeia de Montalegre, numa zona muito bonita, com montes à volta e perto de uma barragem; durante os raros tempos livres com que pude contar, comecei a fazer caminhadas, percorrendo caminhos que conhecia dos meus tempos de infância e juventude, mas que não visitava há muito. Revi lugares há imenso não vistos e recordei pessoas (algumas das quais já falecidas) que comigo passavam por aqueles mesmos lugares. Acabou por ser uma forma de me reencontrar com um espaço ligado à minha infância e à minha juventude, a uma época de felicidade e de pureza. Algumas dessas caminhadas foram a caminho de casa da minha mãe, que vive a alguns quilómetros de distância. Eu visitei-a, nesta fase, com bastante frequência, para sua e minha alegria. Ficávamos, bem entendido, a alguma distância uma da outra, mas podíamos falar e, assim, o confinamento da minha Mãe (que, devido à idade, pertence a um grupo de risco) ficou mais fácil de suportar. 

LC: Deixe, por favor, uma mensagem à comunidade educativa da nossa Escola (em particular, aos alunos, aos professores e aos encarregados de educação) … 

MCC: A esperança é fundamental. Eu creio que devemos confiar uns nos outros, sentirmo-nos pertença da comunidade, colaborarmos, estar à disposição uns dos outros, acreditar que somos - unidos e em conjunto - parte da solução. Na verdade, tudo se torna mais fácil se enfrentarmos juntos os problemas que vão surgindo. E só assim é possível sermos otimistas e acreditarmos que, de facto, tudo vai ficar bem. Este é um tempo que nos obriga, mais do que nunca, a assumir as nossas responsabilidades. Termino confessando-vos as saudades que tenho de uma Escola com toda a gente que faz parte dela (alunos, professores, assistentes operacionais). Já houve um sinal com a reabertura da Escola para o ensino secundário e, depois, para o pré-escolar… Esperemos que tudo volte, num futuro próximo, à desejada normalidade. Tenho mesmo uma grande vontade de voltar a ver pessoas nas escolas do nosso Agrupamento! 

LC: Muito obrigado pela entrevista que nos concedeu. Desejamos-lhe saúde e felicidades.

Arco de Baúlhe, 20 de junho de 2020.

Entrevistadora: Letícia Campos, 8º A1

Coordenação da atividade: JJC

ENTREVISTA AO PROFESSOR LUÍS SANTOS, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE PAIS DO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE CABECEIRAS DE BASTO


BRUNA RODRIGUES (BR): O que mudou na sua vida desde a interrupção das aulas presenciais (em março)? 

Luís Santos (LS): Mudou muita coisa! No meu caso, sou uma pessoa com várias ocupações e a minha vida sofreu um abalo gigantesco em todos os capítulos. Como professor, passei a fazer algo diferente do que estou habituado a fazer e para que não estava preparado: trabalhar a distância. É um modo de trabalhar que não tem a ver com o que tenho feito ao longo dos últimos 22 anos de experiência profissional. Senti, como outros professores sentiram, imenso a falta do contacto com os alunos. Como presidente da Associação de Pais do Agrupamento, foi necessário trabalhar muito para fazer face aos numerosos problemas que surgiram. O nosso objetivo foi sobretudo acudir às necessidades dos alunos com maiores dificuldades no acesso a esta nova forma de ensino. Foi um esforço enorme e, apesar de nem sempre termos tido os resultados pretendidos, conseguimos prevenir ou resolver muitas situações. 

ÂNGELA MOURA (AM): Acha que o sistema de ensino português estava preparado para esta situação? 

LS: O sistema de ensino somos todos nós, na verdade: os alunos, os professores, os encarregados de educação, os auxiliares, as diversas entidades e instituições. Depois, claro, há a tutela, o Ministério da Educação, o governo em geral. Eu creio que ninguém estava preparado para um problema desta dimensão. Nunca tínhamos vivido algo assim, nunca nos tínhamos preparado para algo assim. De qualquer modo, no meio de tantas dificuldades, há aspetos positivos a retirar, nomeadamente a capacidade que revelámos todos para uma adaptação rápida e, na medida do possível, eficaz. Por exemplo, eu não estava familiarizado com esta plataforma de comunicação, o Zoom, mas fui obrigado, como outros, a adotar este e outros processos para manter o contacto com os alunos e os colegas. De qualquer forma, sublinho, no que se refere às aulas, nada substitui, em minha opinião, o trabalho presencial. 

BR: Que balanço faz do trabalho realizado pelos professores e pelos alunos desde que se iniciou este regime de ensino a distância? 

LS: Apesar de todas as dificuldades, o balanço que faço é positivo. Em termos de cumprimento dos objetivos delineados no início do ano letivo, não é bem assim; muitos terão ficado irremediavelmente por cumprir, tendo em conta as limitações que o ensino a distância compreende. Por outro lado, conseguimos coisas positivas, gratificantes. Em termos de Associação de Pais, recebemos inúmeras solicitações e, em geral, cumprimos sempre o que nos foi pedido. Entre muitas missões, lembro o esforço enorme no sentido de fazer chegar materiais pedagógicos a alunos que o não tinham consigo, o empréstimo de meios tecnológicos necessários para aceder às tarefas escolares, a resolução de problemas relacionados com o acesso à internet, a entrega de documentos - planificações, fichas de trabalho - em papel a várias famílias do concelho (espalhadas pelas várias freguesias da nossa comunidade), etc. Fizemos o melhor que pudemos, tudo quanto estava ao nosso alcance. Desse ponto de vista, julgo até que temos motivos para estar orgulhosos do trabalho desenvolvido. 

AM: Quais foram as principais dificuldades que sentiu, como professor, como presidente da Associação de Pais e como encarregado de educação? 

LS: Como encarregado de educação, foi fácil: os meus filhos já são razoavelmente crescidos (tenho um no 12º ano e outra no 9º ano) e são 100% autónomos, o que me garantiu, desde logo, uma segurança e um conforto grandes. Como professor, foi bastante difícil: tenho 140 alunos, de 9 turmas diferentes. No caso de alguns alunos, foi quase impossível manter um efetivo contacto desde meados de março. Numa primeira fase, criei um grupo no Facebook para garantir uma maneira de permanecermos ligados e foi essa, durante algum tempo, a plataforma que usámos para comunicar. Para além disso, recorremos a e-mails, telefonemas, Zoom… De qualquer modo, por muito sofisticada que fosse a tecnologia, não foi possível garantir o que mais desejava: ter os alunos do meu lado, próximos. Como presidente da Associação de Pais, ganhámos novas responsabilidades e novas competências, naturalmente: para além de acudir às diversas solicitações que fomos recebendo, recorremos ao contributo dos professores das Atividades Extra-Curriculares e de monitores que habitualmente já trabalham connosco. Eles ajudaram-nos bastante no cumprimento da nossa missão de ajudar os alunos. Julgo que, acima de tudo, conseguimos assegurar alguma igualdade no acesso dos alunos à Escola. Toda a nossa atuação foi concretizada em trabalho de parceria com a Direção do Agrupamento e a Autarquia. Recordo, a título de exemplo, a importância de termos garantido refeições a alunos carenciados. Olhando para trás, recordo as numerosas reuniões que tivemos, sempre no propósito de responder aos desafios colocados pela situação, procurando melhorar, sempre que possível, a nossa forma de agir. Cumprimos, creio eu, a nossa obrigação. 

BR: Como classifica, em geral, a atitude dos pais/encarregados de educação durante este período tão complicado? 

LS: Muitos pais acabaram por me deixar bastante surpreendido (aliás, agradavelmente surpreendido). Sinto até um certo orgulho por ver que a grande maioria dos pais correspondeu exemplarmente ao que deles era esperado. Como é evidente, a sua atitude de colaboração e esforço não foi mais do que o cumprimento da sua natural obrigação enquanto encarregados de educação, mas a resposta dada deixou-me mesmo bastante satisfeito. Os pais foram, neste período, mais do que nunca, um verdadeiro aliado da Escola. Vale a pena lembrar o que significa a expressão “comunidade educativa”: trata-se de um conjunto de entidades trabalhando para um fim comum, que é sobretudo conseguir que a Escola Pública seja cada vez melhor. E este é um labor conjunto, que obriga a um constante esforço e a uma constante colaboração entre todas as partes. É claro que há alguns pais que, infelizmente, não cumprem bem o seu papel, mas são uma minoria. Em geral, o balanço é muito positivo. 

AM: Como olha para o próximo ano letivo? Tem esperança de que possamos regressar à normalidade? 

LS: Mais do que esperança, trata-se de um desejo. É difícil prever com exatidão o que vai suceder. Note-se que as decisões políticas, neste contexto muito delicado, têm sido tomadas, regra geral, com 3-4 dias de antecedência. Tudo depende sempre da evolução da pandemia. Voltar às aulas presenciais seria o ideal, caro! Mas o que aí vem é ainda uma incógnita. Aproveito, aliás, para me dirigir ao jovens e lembrar que o nosso futuro também depende, em grande medida, da sua própria ação. Temos visto como algumas atitudes imprudentes e irresponsáveis põem em causa o esforço de todos; há jovens que parecem pensar que a Covid-19 é algo que só sucede aos outros (em especial, aos mais velhos), mas os médicos e os cientistas já explicaram que não é bem assim. E, mesmo que os jovens não sejam um grupo de maior risco, podem sempre ser veículos de transmissão do vírus aos outros. 

BR: Uma curiosidade: durante este tempo de pandemia, quando estava em confinamento, além do tempo dispensado ao teletrabalho, como passava o seu dia? 

LS: Passei algum tempo em arrumações, por exemplo: arrumei coisas que, desde há muito, não tivera ainda tempo de arrumar. Vi também televisão (sobretudo, séries) e passei mais tempo com a família. 

AM: Deixe, por favor, uma mensagem à comunidade educativa da nossa Escola (em particular, aos alunos, aos professores e aos encarregados de educação) … 

LS: A minha mensagem é de esperança. Espero que, num futuro próximo, possamos voltar a uma vida normal, ou quase normal. No entanto, temo que nada volte a ser exatamente igual ao que era. Mas, pelo menos, que se recupere a possibilidade de estarmos próximos uns dos outros. Em 22 anos de professor, nunca me tinha acontecido chegar ao final de um ano letivo sem a possibilidade de me despedir dos meus alunos com um abraço. Apesar de tudo, tenhamos esperança. 

BR: Em nome do Clube de Jornalismo da Escola do Arco, muito obrigado pela entrevista que nos concedeu. Desejamos-lhe saúde e felicidades. 

Arco de Baúlhe, 22 de junho de 2020.

Entrevistadoras: Ângela Moura e Bruna Rodrigues, 9º B1 

Coordenação da atividade: JJC

terça-feira, 16 de junho de 2020

ENTREVISTA (via Zoom) À PROFESSORA MARIA JOSÉ BARROSO, COORDENADORA DE DIRETORES DE TURMA



PEDRO MOTA: Professora, como tem sido a sua vida desde a interrupção das aulas presenciais (em março)? 


Maria José Barroso (MJB): Não tem sido fácil! O volume de trabalho, sobretudo nos primeiros tempos, cresceu imenso e os dias pareciam demasiado curtos para tantas tarefas. Tudo foi muito complicado até que eu conseguisse estabelecer uma rotina. A partir desse momento, já adaptada, o que até aí era demorado e difícil passou a ser mais rápido e mais fácil. É preciso não esquecer que os professores (como, aliás, os alunos e os encarregados de educação) tiveram de se adaptar, procurando novas formas de trabalhar. No meu caso, posso até dizer-vos que senti a necessidade de frequentar uma formação que me ajudasse a lecionar em novas plataformas, com recurso às novas tecnologias. E estou, por isso, a frequentar uma formação nessa área. 

RICARDO CARVALHO (RC): Acha que o sistema de ensino português estava preparado para esta situação? 

MJB: Creio que o sistema não estava preparado para uma situação deste tipo. Desde logo porque o ensino a distância deveria sempre acautelar a necessária igualdade no acesso a computadores e à internet, no que se refere aos alunos. Ora, como sabemos, essa igualdade não existia. Foi preciso ir atendendo aos casos de alunos sem recursos tecnológicos e ir resolvendo os problemas, na medida do possível. Reparem que, já no sistema habitual, com aulas presenciais, há desigualdade, porque nem todas as famílias têm os mesmos recursos, mas essa desigualdade acentuou-se, pelo menos nos primeiros tempos, com o ensino a distância. Por outro lado, se até nas nossas escolas, de vez em quando, nos queixamos de falta de modernos equipamentos tecnológicos, imagine-se o que sucede nas casas dos alunos. 

P M: Que balanço faz do trabalho realizado desde que se iniciou este regime de teletrabalho? 

MJB: Apesar de tudo, penso que o balanço é positivo. Claro que as coisas nem sempre correram 100% bem, pois houve sempre, aqui e ali, aspetos a corrigir ou a ajustar. Mas eu gosto de ver as coisas pelo lado positivo e, atendendo à quantidade e dificuldade dos desafios, eu creio que se trabalhou (e continua a trabalhar) bastante bem! Lembro que o ensino a distância foi muitíssimo exigente para todos os envolvidos, mas em particular para os diretores de turma. Os diretores de turma estabeleceram inúmeros contactos com os encarregados de educação e os alunos, sempre no intuito de que nenhum aluno fosse deixado para trás! Para além disso, fizeram a ponte entre professores e alunos, esclarecendo situações, monitorizando o cumprimento das tarefas, etc. Se me permitem, gostaria de muito de destacar e felicitar o trabalho incansável dos diretores de turma do nosso Agrupamento!


RC: Quais foram as principais dificuldades que sentiu, como professora, como coordenadora de diretores de turma e como encarregado de educação? 

MJB: Como professora, procurei adaptar-me a esta nova forma de ensinar, como já disse. Neste momento, posso dizer que já me sinto mais preparada, mais capaz e com imensa vontade de melhorar (ainda mais) as minhas competências e os meus conhecimentos neste contexto. Como diretora de turma e coordenadora de diretores de turma, foi muito, muito difícil! O trabalho duplicou, triplicou! Foi mesmo muito difícil dar vazão a tantas e tão variadas solicitações! Pude, felizmente, contar com a colaboração de todos e o trabalho acabou por fazer-se de modo positivo. Como encarregada de educação, foi também muito complicado. A minha filha é ainda pequenina e precisou da minha presença e da minha ajuda constantes. No fundo, nesse aspeto, eu senti as dificuldades que os outros encarregados de educação sentiram, sobretudo na tentativa de conciliar a dimensão do trabalho com o ofício de mãe. 

PM: Como classifica, em geral, a colaboração dos encarregados de educação com a Escola?

MJB: A colaboração dos encarregados de educação foi verdadeiramente primordial! Em termos gerais, foi uma colaboração muito positiva, não obstante as dificuldades que numerosos pais e mães sentiram. Sublinho o facto de muitos encarregados de educação terem de sair da sua residência para trabalhar, o que significa que os filhos ficam sozinhos em casa, sem o necessário acompanhamento parental. Há muitos que se queixam dessa situação: não poderem, ainda que quisessem, apoiar os seus filhos ao longo do dia, ajudando-os no cumprimento das suas tarefas escolares. Tenho de cumprimentar o esforço da generalidade destes encarregados de educação. Admiro-os bastante. 

RC: Como olha para o próximo ano letivo? Tem esperança de que possamos regressar à normalidade? 

MJB: Gostava muito de regressar à normalidade! Muito! Na minha opinião, o ensino faz mais sentido se estivermos próximos. É claro que a segurança e a saúde são questões a ter em conta. Se, por uma questão de nos protegermos, tivermos de ficar em casa, devemos ficar. Quem decide sobre estas situações tem de considerar sempre as prioridades em jogo, naturalmente. Mas, para responder diretamente à vossa pergunta, sim, gostava muito de voltar a trabalhar na escola, em regime presencial. 

PM: Uma curiosidade: durante este tempo de pandemia, quando estava em confinamento, além do tempo dispensado ao teletrabalho, como passava o seu dia? 

MJB: Para além do teletrabalho - e também da frequência de uma ação de formação -, pude dar mais atenção à família, brincar com a minha filha (não tanto como ela desejaria). Também comecei a ler um livro (Ensina-me a voar sobre os telhados, de João Tordo). Confesso que a pandemia, sobretudo no início, me assustou muito. Posso até confidenciar-vos que senti a necessidade de contactar pessoas amigas com quem já não falava há bastante tempo, só para, por alguns minutos, estarmos juntos, próximos … 

RC: Há alguma pergunta que não fizemos e gostava que tivéssemos feito? 

MJB: Não. Creio que as vossas perguntas focaram o essencial… 

PM: Deixe, por favor, uma mensagem à comunidade educativa da nossa Escola (em particular, a alunos, professores, auxiliares e encarregados de educação) … 

MJB: Deixo-vos uma palavra de esperança. A esperança é fundamental na nossa vida, ainda mais em situações como esta que estamos a atravessar. Pela minha parte, enquanto coordenadora de diretores de turma, manifesto a minha gratidão a todos pela colaboração que tenho recebido. Temos de enfrentar juntos esta situação! E a vida só faz sentido se estivermos juntos, não podemos viver isoladamente. Creio que foi o Papa Francisco, homem que muito admiro, que disse algo como isto: “Precisamos de saber ocupar o nosso lugar e compreender o lugar dos outros.” 

RC: Obrigado pela entrevista que nos concedeu. Em nome do Clube de Jornalismo, desejo-lhe saúde e felicidades. Obrigado. 

Arco de Baúlhe, 15 de junho de 2020.

Entrevistadores: Pedro Mota e Rodrigo Carvalho, 9º B1
Coordenação da atividade: JJC

quinta-feira, 11 de junho de 2020

ENTREVISTA (via Zoom) ao Professor Dinis Félix, Coordenador de Estabelecimento da Escola Básica de Arco de Baúlhe


CÁTIA COSTA (CC): Professor, como tem sido a sua vida desde a interrupção das aulas presenciais (em março)?  

DINIS FÉLIX (DF): Em primeiro lugar, gostaria de cumprimentar as nossas alunas (jornalistas) e respetivas famílias. Respondendo à vossa pergunta, devo confessar que não foi fácil. Nada fácil. Ninguém estava preparado para o que sucedeu. Mas, claro, tivemos de reagir, tivemos de nos adaptar, aprender a usar novas ferramentas. Para mim, foi doloroso. Em particular, faltou-me o convívio com outras pessoas… 


INÊS ARAÚJO (IA): Acha que o sistema de ensino português estava preparado para esta situação? 

DF: Não, não estava. Agora, olhando para trás, até parece que as coisas funcionaram bem, mas foi muito difícil. O sistema não estava preparado e, na verdade, ainda não está. Adaptámo-nos rapidamente, isso sim. Mas toda a gente percebeu que não havia meios tecnológicos disponíveis para todos, nomeadamente para os alunos. Ora, se nem todos os alunos tinham meios para aceder às aulas, estava em causa a igualdade e o direito de todos à educação. Fomos resolvendo os problemas gradualmente, mas foi (e é) muito complicado. 


CC: Que balanço faz do trabalho realizado desde que se iniciou este regime de teletrabalho? 

DF: Olhando para trás, com há pouco dizia, o balanço acaba por ser muito positivo. Depois das imensas dificuldades iniciais, fomos aprendendo a lidar com a situação, sempre com o enorme esforço de todos. Mas foi um processo difícil, doloroso, quer para os alunos, quer para os professores e os encarregados de educação. Aprendemos todos muito rapidamente a lidar com novas ferramentas, novas plataformas de comunicação. Houve algo que me chamou a atenção, em particular: eu tinha a ideia de que os alunos, que já tinham nascido num tempo habituado às novas tecnologias, teriam grande facilidade na adaptação, mas não foi assim! Descobri que muitos, embora acostumados a usar meios informáticos (telemóvel, smartphone, etc.), não estavam preparados para lidar com algumas das plataformas que passámos a utilizar. Mas, lá está, adaptaram-se, aprenderam a lidar com o novo contexto. O balanço, portanto, apesar das dificuldades e das injustiças, é muito positivo! 


IA: Quais foram as principais dificuldades que sentiu, como professor, como coordenador de estabelecimento e como encarregado de educação? 

DF: Como encarregado de educação, foi fácil, porque os meus filhos já são crescidos, têm autonomia e sentido de responsabilidade, possuíam já computador, logo adaptaram-se rapidamente às novas exigências colocadas pelo sistema de ensino. Como coordenador de estabelecimento, não foi assim tão complicado, até porque a nossa escola teve de fechar. O meu trabalho foi estar disponível para ir resolvendo problemas, como permitir a vinda de alunos à escola para recolher material de estudo, dar aos professores dos vários ciclos de ensino as instruções necessárias, etc. Como professor é que a vida se tornou verdadeiramente mais complicada: tive de reorganizar-me, adaptar-me, aprender a usar novas plataformas, a produzir novos materiais (adequados ao ensino a distância), etc


CC: Como classifica em geral, a colaboração dos encarregados de educação com a Escola? 

DF: A colaboração dos encarregados de educação foi muito boa. Os pais dos alunos sofreram também muito com esta situação. Na verdade, muitos tiveram de ser pais e professores dos seus filhos (sobretudo no contexto do 1º ciclo). Tiveram de supervisionar o trabalho dos seus educandos, monitorizar o cumprimento das tarefas, motivá-los… Eu falei com alguns encarregados de educação e notei que estavam agastados, cansados, situação que é, sem dúvida, compreensível. 


IA: Como olha para o próximo ano letivo? Tem esperança de que possamos regressar à normalidade? 

DF: Não sei se voltaremos à normalidade habitual logo em setembro, mas gostava! Tenho essa esperança. A escola (como a conhecemos) faz-nos falta, faz falta a toda a gente. Os alunos e os professores, segundo creio, estão ansiosos por voltar. Mas temos de esperar por setembro para ver como estarão as coisas… Tudo depende de como a situação sanitária evoluir. Talvez comecemos com aulas presenciais e, depois, tenhamos de ir fazendo adaptações… Mas as decisões terão de ser tomadas de acordo com a situação em cada momento. Tenhamos esperança. 


CC: Uma curiosidade: durante este tempo de pandemia, quando estava em confinamento, além do tempo dispensado ao teletrabalho, como passava o seu dia? 

DF: Eu levanto-me todos os dias bem cedo e vou correr uns 5 quilómetros (mais ou menos meia hora). Preciso disso. Sempre gostei de desporto, sobretudo de modalidades de desporto coletivo. O professor Joaquim Jorge sabe que adoro futebol (e de futsal), já jogámos juntos. Custou-me muito ter de deixar de praticar futebol, devido à situação em que nos encontramos. A alternativa tem sido correr e sinto-me bem com esse hábito. Preciso mesmo de sair de casa e manter-me fisicamente ativo. É quase como uma terapia, que faz bem ao corpo e também à cabeça. Aproveitei igualmente o fato de estar confinado para ver filmes e séries. Sempre adorei cinema e agora, como tenho algum tempo disponível, aproveito… 


IA: Deixe, por favor, uma mensagem à comunidade educativa da nossa Escola (em particular, a alunos, professores, auxiliares e encarregados de educação) … 

DF: Como sabem, a escola faz, no presente ano, 25 anos de existência. O aniversário, que pretendíamos assinalar com um conjunto de atividades culturais, acabou por ficar associado à pandemia. Mas voltaremos. A minha mensagem pode resumir-se numa simples palavra: esperança. Espero que nos voltemos a ver, com saúde e ânimo, já em setembro. Mesmo que não possamos abraçar-nos fisicamente, haverá a oportunidade de nos cumprimentarmos presencialmente. Tenhamos esperança. E, já agora, não se esqueçam: protejam-se! 


CC: Muito obrigado, professor. Continuação de bom trabalho, com alegria e saúde. 

Arco, 06 de junho de 2020.
Entrevistadoras: Cátia Costa e Inês Araújo, 9º a1
Coordenação da atividade: JJC

ENTREVISTA (via Zoom) À PROFESSORA MARIA DO CÉU CARIDADE, DIRETORA DO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE CABECEIRAS DE BASTO

LETÍCIA CAMPOS (LC): O que mudou na sua vida desde a interrupção das aulas presenciais (em março)?  MARIA DO CÉU CARIDADE (MCC): Mudou...